
Diretriz Brasileira para Manejo da Obesidade e Prevenção de Doenças Cardiovasculares
Recentemente, uma nova diretriz nacional foi publicada, reunindo cinco sociedades médicas brasileiras, com o objetivo de abordar de forma integrada o manejo da obesidade e a prevenção de doenças cardiovasculares. Este documento surge em um contexto alarmante, onde a prevalência da obesidade aumentou significativamente nas últimas quatro décadas, afetando atualmente mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, incluindo 31% da população adulta no Brasil.
A obesidade, muitas vezes vista apenas sob a ótica estética, causa impactos profundos na saúde, especialmente na saúde cardiovascular. Ela está diretamente ligada ao aumento de fatores de risco como diabetes, dislipidemias e hipertensão arterial, além de afetar negativamente o estado inflamatório do corpo. A obesidade abdominal, em particular, é identificada como um dos principais pontos de atenção.
Importância da Avaliação do Risco Cardiovascular
Um dos primeiros passos recomendados pela diretriz é a avaliação de todos os adultos com sobrepeso ou obesidade em relação ao risco de Doença Aterosclerótica Cardiovascular (DASCV) e à Insuficiência Cardíaca (IC). É sugerido o uso do escore de risco PREVENT para essa avaliação, direcionado a pessoas com IMC inferior a 40 kg/m² e idade entre 30 e 79 anos, que estão em prevenção primária. O escore deve considerar o nível de HbA1c e calcular o risco total de DASCV e IC ao longo de 10 anos.
Categorias de Risco Cardiovascular
A seguir, a diretriz classifica o risco cardiovascular em diferentes categorias:
- Risco Baixo: Menos de 5% em 10 anos; indivíduos com IMC menor que 40 kg/m² e menores de 30 anos, sem fatores de risco.
- Risco Moderado: Entre 5% e 20% em 10 anos; pessoas com sobrepeso ou obesidade que apresentam um ou mais fatores de risco.
- Risco Alto: Superior a 20% em 10 anos; inclui aqueles com doença coronariana, diabetes tipo 2 há mais de 10 anos e outros fatores de risco significativos.
Além disso, é vital considerar o rastreamento para Insuficiência Cardíaca em indivíduos com risco elevado.
Metas de Perda de Peso
Para a redução de fatores de risco, a diretriz sugere uma perda sustentada de pelo menos 5% do peso corporal em adultos com sobrepeso ou obesidade e risco moderado de DASCV. Para aqueles com risco moderado ou alto, a meta de perda de peso deve ser de pelo menos 10% do peso máximo já alcançado na vida.
No caso de indivíduos com fibrilação atrial ou apneia obstrutiva do sono, a perda de peso significativa pode levar a melhorias na condição. Já em pacientes com Insuficiência Cardíaca, emagrecer pode resultar em uma melhor qualidade de vida e função cardíaca.
Mudanças de Estilo de Vida
Adotar mudanças de estilo de vida é crucial. A recomendação é a implementação de uma dieta saudável e a prática regular de atividade física. O aconselhamento nutricional deve se concentrar em:
- Reduzir o tamanho das porções alimentares.
- Aumentar a ingestão de frutas, verduras e hortaliças.
- Diminuir o consumo de álcool e alimentos ultraprocessados.
- Estabelecer um déficit energético inicial de 500-750 kcal/dia.
- Garantir um consumo variado de macronutrientes, especialmente proteínas, para evitar a sarcopenia.
Essas metas podem ser alcançadas por meio de padrões alimentares que priorizem alimentos in natura e minimamente processados, como as dietas mediterrânea e DASH, adaptadas às preferências e contextos socioeconômicos brasileiros.
Manejo Farmacoterápico na Obesidade
Quando as mudanças de estilo de vida não são suficientes, o tratamento farmacológico pode ser um importante aliado. A diretriz recomenda o uso de agonistas do receptor de GLP-1, como liraglutida e semaglutida, para adultos com sobrepeso ou obesidade e risco moderado ou alto de DASCV. Alternativamente, outras medicações antiobesidade com comprovação de eficácia e segurança cardiovascular podem ser consideradas.
Cirurgia Bariátrica
A cirurgia bariátrica é indicada para indivíduos com IMC igual ou superior a 35 kg/m² e risco moderado ou alto de DASCV, especialmente quando o tratamento clínico não resulta em perda de peso significativa. Essa opção deve ser avaliada com cautela, levando em conta o risco cirúrgico do paciente.
Conclusão
A diretriz desenvolvida em colaboração entre cinco sociedades médicas brasileiras oferece uma abordagem abrangente para o tratamento da obesidade e a prevenção de doenças cardiovasculares. A implementação dessas recomendações pode contribuir significativamente para a melhoria da saúde cardiovascular da população.
Referência: Saraiva JFK, Valerio CM, Rached FH, van de Sande-Lee S, Giraldez VZR, Valente F, et al. Diretriz Brasileira Baseada em Evidências de 2025 para o Manejo da Obesidade e Prevenção de Doenças Cardiovasculares e Complicações Associadas à Obesidade: Uma Declaração de Posicionamento de Cinco Sociedades Médicas. Arq Bras Cardiol. 2025; 122(9):e20250621.
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