Controle da Hiperglicemia no Perioperatório: Diretrizes Eficazes

Nova Diretriz para o Controle da Hiperglicemia no Perioperatório

A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) lançou uma nova diretriz que aborda o rastreamento e controle de pacientes diabéticos no período pré-cirúrgico. Esta diretriz examina a importância da hemoglobina glicada (HbA1c) como um parâmetro essencial para garantir a segurança durante a realização de procedimentos cirúrgicos. O manejo adequado da hiperglicemia é crucial para minimizar riscos e complicações associadas a cirurgias, tanto em pacientes com diabetes mellitus (DM) quanto em aqueles sem diagnóstico prévio.

Impacto da Hiperglicemia no Período Pré-operatório

A hiperglicemia no período pré-operatório é uma preocupação significativa, independentemente de um diagnóstico anterior de diabetes. O aumento dos níveis de glicemia pode levar a um aumento da morbimortalidade, resultando em complicações peri e pós-operatórias, incluindo infecções e maior tempo de internação. Pacientes que apresentam episódios de hiperglicemia, especialmente aqueles já diagnosticados com DM, têm uma probabilidade maior de desenvolver infecções nosocomiais, principalmente no local cirúrgico, o que pode elevar a mortalidade intra-hospitalar.

Portanto, é fundamental estabelecer um controle glicêmico rigoroso antes de qualquer procedimento cirúrgico, com o objetivo de minimizar esses riscos. Para pacientes que estão previstos para alta hospitalar em até 48 horas, recomenda-se seguir o Manejo da Terapia Antidiabética em Diabetes Tipo 2, com especial atenção às orientações sobre a manutenção e suspensão de medicamentos antidiabéticos. Para aqueles com condições clínicas mais complexas, como complicações ou internações prolongadas, devem ser seguidos os protocolos estabelecidos pela SBD.

Objetivos da Análise de Glicemia no Pré-operatório

A análise da glicemia pré-operatória é uma etapa obrigatória para todos os pacientes, independentemente de terem um diagnóstico prévio de DM. Os principais objetivos incluem:

  • Identificar casos não diagnosticados de diabetes;
  • Para pacientes já diagnosticados, ajustar os níveis glicêmicos com antecedência;
  • Avaliar e prevenir riscos de complicações peri e pós-operatórias;
  • Ajustar as doses das medicações já em uso;
  • Proporcionar um aporte nutricional adequado para controle glicêmico;
  • Planejar uma melhor abordagem para a alta do paciente.

A Importância da Hemoglobina Glicada

A hemoglobina glicada (HbA1c) é um indicador crucial no rastreio de diabetes em pacientes que se preparam para cirurgias. Segundo as novas diretrizes da SBD, a dosagem de HbA1c deve ser realizada para avaliar o risco cirúrgico, complementando a avaliação da glicemia de jejum. Estudos demonstraram que cerca de 10% dos pacientes que se submeteram a cirurgias cardíacas apresentavam glicemia pré-prandial elevada sem um diagnóstico prévio de diabetes, resultando em um aumento nas complicações cirúrgicas, incluindo reintubações e mortalidade.

No Brasil, uma parcela significativa da população desconhece ser portadora de diabetes, o que torna ainda mais relevante a realização de exames de glicemia e hemoglobina glicada em indivíduos acima de 35 anos ou com fatores de risco, como histórico familiar, hipertensão, obesidade e sedentarismo.

Recomendações para a Dosagem de HbA1c

A dosagem de HbA1c é vital para o diagnóstico de diabetes e avaliação do controle glicêmico, sendo um fator determinante para a liberação para cirurgias eletivas. Nos pacientes diabéticos com valores de HbA1c entre 5,7% e 6,4%, recomenda-se a realização de um teste de tolerância oral à glicose. Um resultado alterado não contraindica a cirurgia, mas exige um controle glicêmico mais rigoroso durante a internação.

É recomendado que os pacientes diabéticos mantenham a HbA1c abaixo de 8% no pré-operatório. Evidências sugerem que níveis elevados de HbA1c estão associados a um aumento significativo nas complicações, tanto em cirurgias cardíacas quanto não cardíacas, elevando os índices de reinternações e mortalidade. Portanto, sempre que possível, as cirurgias devem ser adiadas se as taxas de HbA1c estiverem acima de 8%.

Medidas a Tomar Quando a HbA1c Está Fora da Meta

  • Aguardar para realizar cirurgias eletivas até que os riscos perioperatórios sejam minimizados;
  • Para cirurgias que não podem ser adiadas, um acompanhamento especializado é essencial;
  • Encaminhar pacientes com HbA1c acima de 8% para avaliação endocrinológica;
  • Em situações de urgência, a presença de um endocrinologista na equipe é recomendada;
  • Em cirurgias de emergência, realizar análise de cetonemia capilar se a glicemia exceder 200mg/dL;
  • Iniciar tratamento imediato em casos de hiperglicemia grave, acima de 600 mg/dL.

Outras Recomendações Clínicas

As cirurgias devem ser agendadas para o primeiro horário, reduzindo o tempo de jejum. A glicemia deve ser verificada no dia da cirurgia; se os níveis estiverem acima de 250mg/dL, a cirurgia deve ser adiada até a normalização da glicose. Além disso, recomenda-se a testagem de cetonemia capilar em pacientes diabéticos tipo 1 ou em uso de insulina em caso de suspeita de cetoacidose, e é aconselhável ajustar as doses dos medicamentos antidiabéticos no período que antecede o procedimento, visando alcançar uma HbA1c inferior a 8% sem episódios de hipoglicemia.

Referências

Marino EC, Negretto LAF, Ribeiro RS, et al. Rastreamento e controle da hiperglicemia no perioperatório. Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes. 15 de Agosto de 2025.


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